Encontrei a Samantha e elogiei sua roupa elegante: primeiro o colete, num estilo de alfaiataria retrô, um luxo. Depois, comentei da calça de veludo preta, quando ela me corrigiu:
-Veludo não, amiga, cotelê - colocando a língua pra fora como uma francesa que queimou a língua.
Minha mente então me jogou para um episódio longínquo de minha vida - imaginem como nos filmes, eu rodando e caindo sobre uma superfície psicodélica de sonho, a palavra cotelê ecoando - quando aprendi o significado da palavra anagrama:
Certa vez ganhei de uma amiga muito querida uma camiseta da Candyland. Pois é, há poucos anos atrás eu só usava camiseta, e nada de regata, pois não gostava de mostrar os ombros...pois é, o tempo passa, as coisas mudam, a gente envelhece e muda de idéia. Bom, as camisetas da Candyland tinham estampas únicas, feitas por artistas convidados, e no caso da camiseta que eu ganhei, num tom de verde exército com detalhes em abóbora (para os homens: laranja), a estampa tratava-se de um grafite de um carro estilizado, com a palavra OLIX escrita em caixa alta. A camiseta não era muito grande, visto que era para o meu tamanho, e ela vinha com uma etiqueta pendurada quase do tamanho dela. Nesta, havia a mesma estampa da camiseta, o nome do artista e a explicação do desenho, que era realmente um grafite feito num muro na cidade de São Paulo, e que as letras formavam um anagrama. Fiquei curiosa pra saber o que seria um anagrama, e o maldito dicionário me explicou: quando mudamos a ordem das letras de uma palavra, temos um anagrama, e consequentemente outra palavra, real ou não. Nesse caso, eu estava andando por aí me achando com uma camiseta com um anagrama de LIXO. Maravilha.
Samantha me chama.
- Helena, Helena... por que você tá babando?
Aos poucos, retorno da memória-sonho. Calmamente, como um monge que por anos fitou a mosca sobre o próprio nariz para encontrar a iluminação, digo:
-Sua roupa é um anagrama, Samantha. Cotelê e Colete.
Samantha me olha com aquela cara de "ué". Vou embora, com a sensação de ter voltado de uma viagem psicodélica do LSD que eu nunca tomei.
ps.: Como todo mundo pode perceber, tivemos um problema técnico-mental com a fotógrafa, que simplesmente não fez o serviço dela. Esse negócio de contratação pelo menor preço, sabe como é...