quarta-feira, 11 de maio de 2011

Anagrama

Encontrei a Samantha e elogiei sua roupa elegante: primeiro o colete, num estilo de alfaiataria retrô, um luxo. Depois, comentei da calça de veludo preta, quando ela me corrigiu: 

-Veludo não, amiga, cotelê - colocando a língua pra fora como uma francesa que queimou a língua.

Minha mente então me jogou para um episódio longínquo de minha vida - imaginem como nos filmes, eu rodando e caindo sobre uma superfície psicodélica de sonho, a palavra cotelê ecoando - quando aprendi o significado da palavra anagrama:
Certa vez ganhei de uma amiga muito querida uma camiseta da Candyland. Pois é, há poucos anos atrás eu só usava camiseta, e nada de regata, pois não gostava de mostrar os ombros...pois é, o tempo passa, as coisas mudam, a gente envelhece e muda de idéia. Bom, as camisetas da Candyland tinham estampas únicas, feitas por artistas convidados, e no caso da camiseta que eu ganhei, num tom de verde exército com detalhes em abóbora (para os homens: laranja), a estampa tratava-se de um grafite de um carro estilizado, com a palavra OLIX escrita em caixa alta. A camiseta não era muito grande, visto que era para o meu tamanho, e ela vinha com uma etiqueta pendurada quase do tamanho dela. Nesta, havia a mesma estampa da camiseta, o nome do artista e a explicação do desenho, que era realmente um grafite feito num muro na cidade de São Paulo, e que as letras formavam um anagrama. Fiquei curiosa pra saber o que seria um anagrama, e o maldito dicionário me explicou: quando mudamos a ordem das letras de uma palavra, temos um anagrama, e consequentemente outra palavra, real ou não. Nesse caso, eu estava andando por aí me achando com uma camiseta com um anagrama de LIXO. Maravilha.

Samantha me chama.

- Helena, Helena... por que você tá babando?

Aos poucos, retorno da memória-sonho. Calmamente, como um monge que por anos fitou a mosca sobre o próprio nariz para encontrar a iluminação, digo:

-Sua roupa é um anagrama, Samantha. Cotelê e Colete.
 
Samantha me olha com aquela cara de "ué". Vou embora, com a sensação de ter voltado de uma viagem psicodélica do LSD que eu nunca tomei.


ps.: Como todo mundo pode perceber, tivemos um problema técnico-mental com a fotógrafa, que simplesmente não fez o serviço dela. Esse negócio de contratação pelo menor preço, sabe como é...

Um comentário:

  1. Dale Helena!
    Que delícia de texto!
    Me lembrou o macacão de veludo cotelê que tive, tipo esses de mecânico, que me dava uma alergia dos infernos, mas que eu tinha investido uma grana que na época não tinha e, por isso, não queria acreditar que aquela coceira toda provinha da maravilha de macacão que além de quente era de um cinza claro muito vistoso, juntos o útil e o agradável, mas sobre a desagradável coceira que chegou provocar feridas. Até que enfim, não sem dor, doei.

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Caia dentro: